segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

São Cristóvão pela Europa (57)

 
 
 
 
Rockoxhuis, Antuérpia, Bélgica, 9 de Maio de 2017.
São Cristóvão por Quinten Massijs
 
Ainda em O Rei dos Ulmeiros, Michel Tournier narra grande parte dos eventos do romance usando as ramificações linguísticas da foria, palavra que alguns interpretam como o transporte de alguma coisa.
Há a antiforia, a hiperforia, a faloforia, a superforia, etc.
E lança uma interrogação a propósito da foria, num contexto de interpretações fálicas. Quem sabe se esse não é o sentido da grande recompensa de São Cristóvão: por ter transportado aos ombros o menino-Deus, o seu cajado floresceu subitamente e carregou-se de frutos?
No caos do final da II Guerra Mundial, Abel transporta aos ombros uma criança judia, Efraim, tentando salvá-la no meio de mil provações. Embora não referida explicitamente a analogia com São Cristóvão é evidente.
E o romance termina assim:
E á medida que os seus pés se enterravam na terra empapada de água, ele sentia a criança  – todavia tão magra, tão diáfana – pesar sobre ele como chumbo. Avançava, e o lodo subia pelas suas pernas, e a carga que o esmagava agravava-se a cada passo. Ele tinha agora que fazer um esforço sobre-humano para vencer a resistência pegajosa que lhe triturava o ventre, o peito, mas ele perseverava, sabendo que tudo estava bem assim. Quando ele levantou a última vez a cabeça para Efraim, só viu uma estrela de ouro com seis pontas que girava lentamente no céu negro.
José Liberato
 

Sem comentários:

Enviar um comentário